Nesta semana, Centenário e Três Arroios estão avaliando a situação. Eventos climáticos extremos estão gerando inúmeros prejuízos aos municípios da região, em alguns deles a estiagem iniciou ainda no fim de 2024. Perdas na soja chegam a R$ 800 milhões
Mais uma vez, os eventos climáticos extremos geram inúmeros prejuízos para os municípios da região Alto Uruguai. Em alguns deles a estiagem iniciou, ainda, no fim de 2024 e se mantém até o momento, como é o caso de Gaurama. No geral, as chuvas foram irregulares e abaixo da média na região e associado ao calor excessivo agravaram a situação. Esta combinação de fatores trouxe muitos problemas para as famílias do campo e atingiu, praticamente, todas as culturas, gerando perdas significativas na produtividade de grãos, soja, milho e feijão, hortifrútis e produção de carne e leite.
AMAU
Segundo informações da Associação de Municípios do Alto Uruguai (AMAU), 27 municípios, dos 32 que compõem a região, já decretaram situação de emergência em função da estiagem. Nesta semana, os municípios de Centenário e Três Arroios estão avaliando laudos e a situação para ver se decretam. Somente três municípios, Mariano Moro, Barra do Rio Azul e Aratiba, não estão em situação de emergência. Em Erechim, para citar exemplos, os prejuízos podem passar de R$ 25 milhões, Gaurama R$ 19 milhões e Paim Filho mais de R$ 23 milhões. E a produção agrícola é fundamental para compor o retorno das receitas do Estado ao município, principalmente, via ICMS.
Safra de grãos
Novamente, a região Alto Uruguai sente os efeitos negativos do clima, com quebra de produtividade na soja, principal cultura de verão. Segundo dados da Emater /RS-Ascar, a quebra na safra de soja 2024/2025 será 33% o que representa perdas de R$ 800 milhões para região. Na soja, o município de Campinas do Sul, com área cultivada de 16.100 hectares, é um dos mais prejudicados da região, com produção média de 1400 quilos por hectare, isto é, 23 sacos por hectare. Depois vem Benjamin Constant do Sul e Erval Grande com 1.800 quilos por hectare (30 sacos), Floriano Peixoto 1.650 quilos por hectare (27,5 sacos).
Os municípios de Ipiranga do Sul, Getúlio Vargas, Paulo Bento, Erebango, Charrua, Entre Rios do Sul, que são grandes produtores de soja, a produtividade média vai ficar em 2.100 quilos por hectare (35 sacos).
Agricultura familiar
O Sindicato Unificado dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Alto Uruguai - SUTRAF-AU afirma que a estiagem atingiu, praticamente, todos os municípios, gerando perdas no milho, soja e feijão, na citricultura, na produção de leite e causando estresse nos animais.
“Além da falta de água aos animais, muitas famílias do meio rural estão necessitando de água para consumo humano. A situação vem se agravando, os agricultores não estão conseguindo fazer o plantio de cultivos de inverno e os animais estão consumindo o estoque de silagem. Estamos diante de uma situação crítica que exige ação imediata das autoridades para minimizar os prejuízos e garantir que os agricultores possam seguir com sua produção", afirmou o coordenador do SUTRAF-AU, Alcemir Bagnara, destacando que muitos produtores estão recorrendo a financiamentos o que agrava o endividamento do setor.
O SUTRAF-AU ressalta que é fundamental a liberação de créditos emergenciais, renegociação de dívidas e ampliação do fornecimento de água para as propriedades atingidas, maior investimento em políticas públicas voltadas à segurança hídrica e ao fortalecimento da agricultura familiar. "Precisamos de respostas concretas. Os agricultores não podem continuar sendo os principais penalizados pelas mudanças climáticas. É fundamental que haja planejamento e investimento para que possamos enfrentar futuras estiagens com mais segurança. Sem apoio efetivo, muitas famílias podem ser obrigadas a abandonar o campo, o que traria impactos sociais e econômicos irreversíveis para nossa região", enfatiza Bagnara.
O calor, dos últimos dias, tem agravado a situação, acrescenta o SUTRAF-AU, aumentando as perdas e a falta de água no meio rural. “Também está ocorrendo falta de água e diminuição dos reservatórios, que abastecem a população urbana. E, gravidade da situação só aumenta, porque as previsões de precipitação para os próximos dias são insignificantes", acrescenta o coordenador Bagnara.
Eventos climáticos
A presidente do Conselho Municipal de Proteção ao Meio Ambiente (COMPAM), Sônia Balvedi Zakrzevski, afirma que tanto o Brasil e o Estado do Rio Grande do Sul sentiram o agravamento da crise hídrica, em função dos eventos climáticos extremos, intensificados e agravados pela mudança climática. “As secas têm causado impactos significativos no meio ambiente e na sociedade, assim como as enxurradas, inundações, enchentes, alagamentos e deslizamentos, afetando a saúde humana de várias formas incluindo a segurança hídrica e alimentar”, explica a presidente do Conselho Municipal de Proteção ao Meio Ambiente (COMPAM), Sônia Balvedi Zakrzevski.
Integrar esforços
O professor do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Campus Erechim, Roberto Valmir da Silva, ressalta que, no ano de 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou intensas inundações, que causaram profundos impactos em diversas localidades. “Em 2025, partes do Estado enfrentam uma severa estiagem que afeta significativamente a agricultura e a economia local. Diante de tal cenário, fica evidente a necessidade urgente de integrar esforços entre governos, iniciativa privada e sociedade civil, especialmente, na implementação de tecnologias inovadoras e estratégias de gestão inteligente da água. Hoje, a deficiência em enfrentar eventos climáticos extremos destaca a importância de medidas que protejam comunidades e garantam o uso sustentável dos recursos hídricos”, observa Roberto.
Anomalias
O professor da URI, Vanderlei Decian, ressalta que a região do Alto Uruguai Gaúcho vem presenciando anomalias climáticas que influenciam no ciclo da água, acarretando estiagens frequentes e excesso de chuvas em um mesmo ano. “Em 2024, a região passou por eventos extremos com chuvas torrenciais que causaram danos no meio rural e alagamentos em cidades, como Barra do Rio Azul, Barão de Cotegipe, Três Arroios e Ponte Preta. Da mesma forma, passamos por momentos de estiagem em que há perda econômica na agricultura e pecuária pela baixa produção devido à falta de chuvas”, comenta Decian.