“Persistir diante de uma comunidade acadêmica que tem 95% de não indígenas não foi nada fácil”, garante Carina


A educação é, sem sombras de dúvidas, o maior tesouro que uma pessoa pode adquirir ao longo da vida, pois será somente esta que dará o Norte para a sua caminhada ao longo dos anos que terá para a frente.

Mas, nesta caminhada sobre educação e o fato de chegar aonde se quer, existem muitos exemplos para serem colocados ao conhecimento de todos, de pessoas que se esforçam e ultrapassam suas barreiras, de situações inesperadas e colocadas à prova ao longo da vida, e de pessoas que passam a ser um exemplo na comunidade onde vivem ou tiveram origem.

É com esta tônica que o Grupo Bom Dia procurou Carina de Oliveira, 27 anos, filha de Noeli de Oliveira, 48 anos, Kaingang da Terra Indígena Votouro, moradora do município de Benjamin Constant do Sul.

Formatura

         Recentemente Carina, que atualmente mora na cidade de Rio Grande, formou-se em Medicina na universidade federal daquele município, um momento ímpar e de grande realização para ela, como para toda a sua família e tribo de origem.

Em sua caminhada até chegar ao curso de Medicina, Carina terminou o Ensino Médio no ano de 2015 e, desde então, começou a prestar vestibular na tentativa de ingressar para Medicina.

Primeiro a Enfermagem

         No ano de 2016 foi aprovada para Enfermagem na Universidade Federal de Rio Grande e após três anos entra para a Medicina através do processo seletivo indígena da FURG. “Daí para adiante foram seis anos de estudo e abdicações para que esse ano estivéssemos juntos comemorando essa grande conquista”.

Conquista inesperada

         “Esta foi uma conquista inesperada, depois de tantas tentativas, mas desistir nunca esteve nos meus planos, lutei por alguns anos até conseguir, não por mim, mas por quem esperava pelo meu retorno como profissional que me tornei hoje, tanto minha família, então uma representatividade muito significativa para o povo Kaingang”. Destaca Carina que atualmente trabalha como Clínica Geral, mas que pretende no futuro fazer residência em Medicina de Família e Comunidade.

Adaptação

         Nesta caminhada na universidade, por ser indígena, também existe a questão da adaptação com os demais estudantes, mas Carina pontua que não foi fácil no início, mas com o andar do tempo, as coisas se tornaram mais fáceis.

 “Para uma jovem que saiu da sua zona de conforto em busca de melhoria pessoal e profissional, foi muito complicado, impacto cultural em um lugar onde não conhecia ninguém, em uma cidade distante da minha comunidade, e persistir diante de uma comunidade acadêmica que tem 95% de não indígenas não foi fácil inicialmente, mas tive um acolhimento muito grande pela turma que ingressei, e hoje me formar com os mesmos foi muito gratificante”, garante. 

Cultura indígena

         Questionada sobre o que representa para Carina dentro da cultura indígena estar hoje formada em Medicina e se há planos para trabalhar em alguma reserva em algum ponto do país, ela pontua que “ainda não caiu a ficha de que conseguirei retornar a minha comunidade sendo Médica, mas acredito que essa conquista não foi só minha, porque sempre apoio de lideranças da minha comunidade, e sim, quero retornar e trabalhar, até porque foi uma constante espera para que conseguíssemos isso”.

Apoio da mãe

  Carina afirma que a conquista representa um exemplo de resistência e perseverança e o apoio de sua mãe foi fundamental na sua caminhada.

“O apoio dela sempre me manteve aqui, saliento que nunca foi fácil, pois quando ingressei teve muitas condições climáticas que me impediram de estar presente em datas comemorativas junto da minha mãe, e enfrentar isso por esse período exigia um foco de mim, para que houvesse um retorno mais breve possível para casa”, finaliza.


Por Carlos Silveira
Foto Arquivo pessoal