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Projeto da Embrapa e Fetag-RS foi apresentado e discutido durante a semana.
A Embrapa Pecuária Sul e a Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Rio Grande do Sul (FETAG-RS) anunciaram a organização de uma Rede de Pecuária de Corte Familiar Agroecológica no Rio Grande do Sul. As informações sobre a novidade foram apresentadas na sede da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS), durante seminário que contou com a presença de pecuaristas familiares, entidades representativas da agropecuária e do deputado federal Elvino Bohn Gass, responsável pela emenda parlamentar de R$ 162 mil para financiamento da rede no seu primeiro ano de atividade.
A rede integra uma estratégia ampla da Fetag para a organização e desenvolvimento da pecuária de corte familiar no RS. Conforme Agnaldo Barcellos, diretor financeiro da federação, a instituição, em parceria com diversas organizações, tem buscado articular as entidades de representação da pecuária familiar, como forma de manter a categoria unida para organização e também para acesso a políticas públicas que visualizem este público com suas características específicas.
Dentro dessa proposta mais ampla da Fetag, a Embrapa irá instalar Unidades de Aprendizagem Coletiva (UACs), com foco na observação e análise dos modelos produtivos praticados pela pecuária familiar em diferentes regiões do Estado. Conforme Marcos Borba, pesquisador e chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pecuária Sul, a pecuária familiar tem capacidade de gerar produtos concernentes com as demandas contemporâneas por alimentos saudáveis e sustentáveis.
“Os campos nativos do Pampa formam um ecossistema diverso e complexo, que são a base da pecuária familiar. O manejo conservacionista desses campos segue o princípio da agroecologia. Buscamos com as UACs entender a complexidade do sistema pecuário nesse contexto, em que é imprescindível a presença do pecuarista familiar e de sua organização com os demais atores em um processo de geração de renda a partir destes recursos locais”, destacou Borba, ao explicar a base para formação da rede.
Conforme Borba, territórios como o Alto Camaquã, que estiveram por muitos anos distantes do processo de modernização da agricultura, estão hoje à frente quando se pensa em lógicas de produção de alimentos a partir de uso dos recursos locais, com preservação da biodiversidade, manutenção da saúde da água, solo e ar, fixação de carbono e riqueza histórico-cultural.
Para a pecuarista familiar Vera Colares, é urgente inserir os pecuaristas familiares na pauta das políticas públicas, a partir de um movimento em que o Estado observe o potencial existente nas famílias produtoras para a produção de alimentos. “A pecuária familiar é extremamente sustentável. Não precisa alterar em absolutamente nada a natureza para produzir. E nós estamos esquecidos, a gente não existe”, disse.
Durante o evento, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apresentou estudos sobre a cadeia da ovinocultura nos Polos Alto Camaquã e Fronteira Oeste, para elaboração da Rota do Cordeiro. Entre os principais desafios da cadeia produtiva da ovinocultura, levantados pelo estudo do Dieese, está o destino da produção para abate na indústria, algo que se efetivado contribuiria para diminuição da informalidade, geração de renda e emprego.
A pecuária familiar também foi abordada pelo Dieese a partir da perspectiva de ser uma das importantes alternativas em um futuro plano de Transição Justa da Matriz Energética do Carvão. Essa transição busca gerenciar e minimizar impactos socioeconômicos decorrentes do possível encerramento de atividades de produção de energia através do polo carbonífero instaurado em municípios como Candiota. Nesse sentido, conforme o Dieese, o estímulo a atividades agroindustriais, como a pecuária familiar, pode ser um diferencial no uso dos recursos locais.