Copom decidiu por redução de 0,25 ponto percentual, menor que a das últimas reuniões; patamar se iguala ao de janeiro de 2014
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (8) reduzir a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, de 10,75% para 10,5% ao ano. É o sétimo corte seguido, acompanhando a sequência de quedas iniciada em agosto de 2023. O novo patamar da Selic se iguala ao de janeiro de 2014. A queda, no entanto, foi menor que a das reuniões anteriores, que reduziram 0,5 ponto percentual da taxa cada uma.
Segundo o comunicado do órgão, a decisão se dá porque “o ambiente externo mostra-se mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente referente ao início da flexibilização de política monetária nos Estados Unidos e à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países”. “Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.”
A votação não foi unânime. “Votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes. Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros: Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira”, diz o texto.
Como adiantou o R7, o cenário de incertezas sobre a economia mundial levou o órgão a reduzir o ritmo de cortes da taxa básica de juros. Para o economista Hugo Garbe, além das incertezas macroeconômicas “persistentes”, a previsão de redução de 0,25 ponto percentual considera a recente sinalização do Banco Central de desacelerar o ritmo de cortes.
“Um ajuste mais conservador na política monetária reflete uma abordagem prudente frente às incertezas fiscais e políticas internas, além de responder ao contexto externo estabilizado, considerando especialmente as decisões do Fed (Federal Reserve), o Banco Central dos Estados Unidos, de manter os juros”, afirmou.
O economista e especialista em educação financeira Newton Marques analisa que “há uma preocupação com as incertezas da economia mundial, bem como alguns indícios de que estamos atingindo o pleno emprego, o que provocaria um excesso de demanda por bens e serviços. E isso já vem sendo mostrado com a alta dos juros futuros negociados no mercado financeiro”, disse.
No último dia 1º, o Fed anunciou a manutenção dos juros americanos no intervalo de 5,25% a 5,5%. Com isso, a taxa de juros permanece no mesmo patamar desde julho do ano passado.
Segundo Hugo Garbe, a manutenção das taxas pelo Fed fornece um “pano de fundo de estabilidade” que permite ao Copom manejar a política monetária com foco nas condições internas sem pressões exacerbadas por instabilidades externas.
“Assim, uma redução mais lenta da Selic pode moderar a inflação e sustentar o crescimento econômico ao equilibrar o custo do crédito e os incentivos ao investimento, enquanto administra as expectativas inflacionárias no médio prazo”, explicou.
O economista Augusto Mergulhão ressalta ainda que a manutenção dos juros americanos afeta os mercados globais, incluindo o Brasil, e pode influenciar a política monetária do Copom, sugerindo um pouco mais de cautela. Ele explica que é importante entender o dinamismo da correlação entre taxa de juros e o fluxo de capital.
“A reação não é simples. No entanto, vemos um grande movimento de fuga de capital para economias desenvolvidas, devido aos juros mais altos nos EUA e à instabilidade geopolítica. Isso causa a desvalorização do real e a volatilidade no mercado brasileiro. O capital estrangeiro busca segurança no dólar, levando à desvalorização da moeda brasileira frente à moeda americana e impactando os custos de produção, uma vez que muitos insumos são importados. Isso beneficia exportadores, mas prejudica importadores e pode pressionar a economia brasileira”, afirmou.
Histórico recente
De março de 2021 a agosto de 2022, o Banco Central elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de “aperto monetário” em resposta à alta dos preços de alimentos, energia e combustíveis. Por um ano, de agosto de 2022 a agosto de 2023, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.
Colaborou Clarissa Lemgruber
Emerson Fonseca Fraga, do R7, em Brasília