Vale do Taquari teve a maior enchente desde 1941 | MAURICIIO TONETTO/GOVERNO RS
Os efeitos do El Niño, que começaram em junho, estão sendo observados no país com seca severa na Amazônia, calor extremo no Sudeste e no Centro-Oeste, e chuva recorde no Sul do Brasil.
El Niño persiste no Oceano Pacífico Equatorial, ainda se intensifica e bagunça o clima com extremos de precipitação e temperatura de Norte a Sul do Brasil. A publicação é da Metsul
Os efeitos do El Niño, que começaram em junho, estão sendo observados no país com seca severa na Amazônia, calor extremo no Sudeste e no Centro-Oeste, e chuva recorde no Sul do Brasil.
Todos esses impactos são características típicas do fenômeno El Niño no clima do Brasil e foram previstos com precisão por modelos climáticos com vários meses de antecedência.
No Norte do Brasil, a principal manifestação dos efeitos do El Niño se dá pela seca que assola a região amazônica. O nível do Rio Negro no começo desta semana chegou a 12,80 metros no Porto de Manaus, o menor desde começaram as medições em 1902
O Amazonas registra a menor extensão coberta por água no estado desde 2018. Os dados foram obtidos a partir de imagens de satélites dos sistemas LandSat e Sentinel e apontam para uma superfície de água de 3,56 milhões de hectares, uma redução de 1,39 milhão de hectares em relação aos 4,95 milhões de hectares registrados em setembro de 2022, segundo o Map Biomas.
Embora o nível do rio não seja dependente da chuva que ocorre na cidade de Manaus, os acumulados de chuva têm estado quase todos os meses abaixo da média.
No Centro-Oeste e no Sudeste, o calor extremo quebrou recordes nesta primavera em duas ondas de calor, uma na segunda quinzena de setembro e outra nesta segunda metade de outubro. O episódio de setembro trouxe temperatura de 45ºC no interior de São Paulo e fez com que a cidade de Belo Horizonte registrasse sua maior máxima desde 1910 com 38,6ºC. Agora em outubro, Cuiabá teve a maior temperatura máxima desde o início dos registros com 44,2ºC, superando o recorde da onda de calor de 2020 de 44ºC.
No Sul, chuva demais
A chuva com acumulados extraordinário de setembro trouxe a maior cheia do Rio Taquari (29,62 m) e a maior cota do Guaíba em Porto Alegre (3,18 m) desde 1941. O Rio Grande do Sul, ademais, teve o maior desastre natural em vítimas desde 1959 com a enchente catastrófica do Vale do Taquari, com saldo oficial de 51 mortos.
Em Santa Catarina e no Paraná, os extremos de chuva passaram a ser observados a partir deste mês de outubro com graves enchentes.
O fenômeno El Niño não apresentou grande intensificação nos últimos 30 dias, mas ainda se fortalece. O último boletim semanal sobre o estado do Pacífico da agência climática dos Estados Unidos (NOAA) indicou que a anomalia de temperatura da superfície do mar era de 1,6ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central. Esta região é a usada oficialmente na Meteorologia como referência para definir se há El Niño e ainda avaliar qual a sua intensidade
A tendência é de o fenômeno El Niño seguir influenciando o clima nos próximos meses com mais extremos pelo Brasil. Ao menos até o começo ou o meio do outono de 2024 são esperadas condições de fase quente do Oceano Pacífico Equatorial. De acordo com a maioria dos modelos de clima, o pico de intensidade do El Niño se daria entre novembro e dezembro.
Com isso, novos extremos de chuva e seca devem ser esperados no Brasil. Chuva com volumes muito acima da média está no prognóstico climático da MetSul Meteorologia para os próximos meses ainda no Sul do país e acumulados acima do normal são previstos para as próximas semanas em parte do Centro-Oeste e do Sudeste, sobretudo no Mato Grosso do Sul e São Paulo.
No Norte, a chuva deve seguir abaixo da média, embora a chegada do inverno amazônico traga um aumento da precipitação. A situação tende a se deteriorar em parte da Região Nordeste com seca que tende a se agravar principalmente em áreas mais ao Norte da região com piora maior esperada para os primeiros meses de 2024.
Assim, o restante desta primavera e todo o verão de 2024 ainda terão a presença do El Niño pelas projeção da agência de clima norte-americana. A transição para uma fase de neutralidade, com o fim do episódio de El Niño de 2023/2024, somente se daria durante o outono do próximo ano, mais possivelmente entre meados de abril e maio.