Ferramenta transporta a realidade para dentro do ambiente virtual - Foto: Gustavo Mansur/Secom
Simulando diversos cenários e atividades ligadas à rotina policial, a ferramenta pode ajudar no enfrentamento de situações complexas.
Uma tecnologia inovadora passou a ser utilizada de forma inédita no Rio Grande do Sul para auxiliar no treinamento de policiais militares. Óculos de realidade virtual desenvolvidos por estudantes universitários estão sendo incorporados na preparação de agentes da Brigada Militar para aperfeiçoar o atendimento às ocorrências. Simulando diversos cenários e atividades ligadas à rotina policial, a ferramenta pode ajudar no enfrentamento de situações complexas.
Elaborada pelo Centro Universitário UniRitter, a ferramenta transporta a realidade para dentro do ambiente virtual. Os óculos permitem ao policial imergir em diferentes ambientes, reproduzindo atividades que exigem conhecimento técnico. O objetivo é aperfeiçoar o trabalho dos policiais militares, tornando sua atuação cada vez mais precisa e assertiva.
Segundo o comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar (BPM), Major Costa Limeira, o projeto é pioneiro em todo o Brasil. “Fizemos um mapeamento e identificamos que nenhuma outra polícia do país tem uma ferramenta como essa. Existem simuladores de realidade virtual, mas não há referência no Brasil de um formato construído e direcionado, desde o princípio, para a atividade policial militar”, afirmou. “Além disso, essa ferramenta propõe uma visão integrada e multidisciplinar, envolvendo, dentro da mesma aplicação, tanto o treinamento policial como a possibilidade de atendimento psicológico e de avaliação de saúde e nível de estresse do policial. Não encontramos um modelo semelhante até o momento.”
BM Verso
Como utiliza a plataforma Metaverso, o recurso foi denominado BM Verso. A ideia surgiu em março deste ano, quando o 1º BPM conheceu ferramentas de realidade virtual desenvolvidas pela UniRitter para o treinamento de profissionais da área da saúde. O batalhão propôs, então, a criação de recursos voltados para o contexto do policial militar. A instituição de ensino topou o desafio e apresentou um protótipo um mês depois.
Posteriormente, a ferramenta foi sendo aperfeiçoada a partir da colaboração dos próprios militares, que puderam testar a tecnologia e apresentar ideias e sugestões. Com base nas vivências e no cotidiano da carreira militar, os alunos inseriram e ajustaram funcionalidades e elementos, tornando a ferramenta cada vez mais fidedigna. Na plataforma, há reproduções do 1º BPM e de ruas e prédios de Porto Alegre.
Ao colocar os óculos de realidade virtual, o policial é exposto a uma série de situações nas quais é desafiado a agir e a escolher a melhor conduta. “Temos a certeza de que vai ser uma excelente ferramenta para o treinamento e, principalmente, para o aperfeiçoamento do processo de tomada de decisão por parte dos policiais”, acrescentou Limeira.
Dentro do BM Verso, foram desenvolvidos, inicialmente, três módulos de treinamento: um estande de tiro, que reproduz, de forma realista, o manuseio de armas; o atendimento de ocorrências, que permite a simulação de vários cenários, com múltiplas possibilidades de desfechos, considerando diferentes reações dos autores e das vítimas e medidas que o policial pode adotar; e uma sala de atendimento psicológico, na qual o policial poderá receber, dentro do ambiente virtual, atendimento por parte de outros profissionais. Para o módulo de atendimento de ocorrências, foi criada, a princípio, uma situação de violência doméstica, enquadrada na Lei Maria da Penha.
A definição desses três módulos partiu da observação das próprias necessidades de treinamento dos profissionais. Os policiais do 1º BPM foram os primeiros a testar o equipamento, mas a ideia é expandir o projeto para toda a corporação.
“Faremos uma validação no 1º BPM, seguindo uma coordenação do Comando Geral da corporação e do Laboratório de Polícia Inteligente, para que possamos, primeiramente, desenvolver os módulos já existentes, aumentando as possibilidades e o acesso dos policiais militares. O objetivo é não só incorporar a ferramenta em nossos cursos de formação, mas também estender a todas as unidades, nos treinamentos de rotina”, ressaltou Limeira.
Sensação real
O professor Luciano Bessauer, coordenador da área de tecnologia da UniRitter, explicou como funciona a plataforma. “Na realidade virtual, o ambiente é construído de forma a representar exatamente os locais onde as ocorrências acontecem. O policial anda pelas ruas, reconhece esses lugares, visualiza as características da região e do bairro e os movimentos. Tudo isso está presente”, disse. “O Metaverso é um ambiente virtual no qual tudo está representado como se fosse real.”
A soldado Jéssica Andressa Moraes da Silva, que atua na Brigada Militar há três anos, participou dos testes dos equipamentos. “Há um lema na Brigada que diz que o treinamento leva à perfeição. Esse projeto nos trouxe uma forma de aperfeiçoamento. O equipamento vai agregar muito aos nossos treinamentos e ajudará no processo de aprendizagem, porque podemos manusear as armas e treinar diversas vezes, de diferentes formas”, detalhou. “Na linha de tiro, por exemplo, a sensação é real. É como se estivesse efetuando os disparos mesmo: o som, a vibração do equipamento, o manuseio e as travas de segurança. É possível sentir tudo isso no Metaverso.”
Para Bessauer, a ferramenta pode ter um grande alcance e proporcionar muitos benefícios para a área da segurança pública no Estado. “É um recurso que quebra barreiras e pode, inclusive, levar à economia de recursos financeiros. Por exemplo, policiais de Uruguaiana não precisariam vir a Porto Alegre para receber determinados tipos de treino. É uma tecnologia que permite um treinamento preciso e mais assertivo, proporcionando também um olhar para a saúde mental do policial”, destacou.