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A professora Paola Milanesi diz que a doença estará em evidência nesta safra e orienta como produtores devem agir
Pesquisadores do Laboratório de Fitopatologia da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) Campus Erechim encontraram, em análises de soja voluntária no norte gaúcho, urédias de ferrugem-asiática. Conforme a professora Paola Mendes Milanesi, do curso de Agronomia, o cenário preocupa, visto que a semeadura da soja ainda nem começou no Alto Uruguai e já há presença da doença.
- Isso indica que, nesta safra, a ferrugem asiática será uma doença bastante evidente nas lavouras de soja e requer atenção por parte de produtores e cooperativas – alerta a pesquisadora.
O foco da doença foi informado à plataforma do Consórcio Antiferrugem, site idealizado pelo Laboratório de Epidemiologia de Plantas da UFRGS e pelo Grupo de Pesquisa Mosaico da UPF, responsável pela construção e manutenção das primeiras versões do sistema. A equipe da Embrapa Soja é responsável pela coordenação do Consórcio Antiferrugem e o gerenciamento do conteúdo.
A professora da UFFS acredita que a presença da ferrugem antes da semeadura se deve a diversos fatores.
- Por exemplo: a presença de plantas voluntárias (soja guaxa ou tiguera) nas lavouras; o cultivo de soja safrinha (que é semeada após a colheita da safra, ou seja, a partir de fevereiro/março); e plantas de soja que já estão em desenvolvimento, visto a já realização de semeadura em outros estados brasileiros e até mesmo em países vizinhos, tais como Bolívia e Paraguai.
A ferrugem asiática é causada por um fungo, chamado Phakopsora pachyrhizi, que consegue sobreviver apenas no tecido vivo das plantas. Estima-se que esse fungo tenha possibilidade de infectar mais de 150 espécies vegetais. Por isso, quando plantas guaxas permanecem no campo após a colheita (na safra e na safrinha), e considerando a presença de soja em desenvolvimento já em outros locais, tem-se a formação de uma “ponte verde” que atua mantendo continuamente a presença dos esporos do fungo pelo ar.
Associado a isso, havendo condições ambientais favoráveis, tais como mínimo de 6 horas de molhamento foliar contínuo e temperaturas entre 20 e 28 graus, tem-se a ocorrência da doença. Essas condições foram observadas nos últimos dias em Erechim.
Para que os produtores possam se proteger, a pesquisadora explica que a antecipação da época de semeadura da safra, dando preferência a semeaduras em metade de outubro e primeira quinzena de novembro, além da escolha por cultivares de ciclo mais precoce, dão ao produtor ganho de tempo, pois a cultura permanecerá na lavoura em um período mais curto e, portanto, ficará menos exposta à ocorrência da doença.
"Outras medidas, como uso de cultivares com resistência à ferrugem asiática (“soja inox”), pode ser uma alternativa, mas desde que junto haja também reforço com o controle químico. Nenhuma medida isolada terá bom efeito no controle da doença", destaca Paola.
"O cuidado com a regulagem de colhedoras é uma medida simples e que previne a perda de grãos de soja que, por sua vez, irão germinar e estará assegurada a manutenção de plantas guaxas na lavoura. Da mesma forma, o não cultivo de soja na safrinha enfraquece a ponte verde", conclui a professora.
Paola lembra que no Rio Grande do Sul está vigente, desde 2022, a Portaria SDA Nº 516, de 1º de fevereiro de 2022, que define o vazio sanitário para a cultura da soja. De acordo com essa portaria, não deve haver cultivo de soja no estado entre 13 de julho a 10 de outubro, sendo que nesta safra o período foi antecipado em 10 dias, ou seja, entre 3 de julho a 30 de setembro.
A presença de soja guaxa, tais como a que permitiu a diagnose realizada no Laboratório de Fitopatologia da UFFS, indicando o foco de ferrugem asiática, pode ser resultado de má regulagem da colhedora, plantio de safrinha, acentuando ainda mais as perdas de colheita e manutenção de grãos na lavoura; e dessecação em pré-semeadura de trigo com herbicidas os quais a soja apresenta resistência.
"Com relação ao controle químico, o monitoramento de focos da doença é essencial para o sucesso no controle da ferrugem asiática, visto que sua diagnose é complexa, pois a doença se desenvolve muito rapidamente após o momento em que o fungo acessa os tecidos da planta. Por isso, em safras cujas condições serão satisfatórias para a ocorrência da ferrugem asiática, a aplicação de fungicidas realizada na capina, ou também conhecida como aplicação zero, poderá trazer resultados benéficos.
Além disso, em caso de chuvas muito frequentes, o ideal é um encurtamento no intervalo entre as aplicações, ou seja, passando de 14 ou 15 dias, para 10 a 12 dias. O uso de fungicidas eficientes, com boa performance de controle da doença, associados aos fungicidas multissítios, principalmente mancozebe e clorotalonil, tem resultado em boa eficiência no manejo da ferrugem asiática. Ter o entendimento de que as plantas precisam ser tratadas por estratos, ou seja, terço inferior, terço médio e terço superior, usando uma tecnologia de aplicação adequada, com pulverizador bem regulado e que permita que o fungicida atinja o alvo biológico nas folhas, é fundamental, orienta Paola".
"Destaco o crescimento na utilização de fungicidas microbiológicos (baseados em bactérias benéficas, tais como as do gênero Bacillus) juntamente aos fungicidas. Pesquisas realizadas pela Embrapa Soja e parceiros indicam resultados promissores. O único cuidado que o produtor deverá tomar ao utilizar um produto biológico em sua lavoura é quanto ao horário de aplicação, pois ao realizá-las à tardinha haverá maior possibilidade para o bom estabelecimento do Bacillus, garantindo melhor eficiência no controle da ferrugem asiática. Também o produtor deverá optar por produtos de boa qualidade e com procedência", frisou.
Por fim, Paola lembra que, na dúvida, sempre é aconselhável consultar um engenheiro agrônomo, que é o profissional que poderá melhor orientar na tomada de decisão. A professora também destaca que o Laboratório de Fitopatologia da UFFS - Campus Erechim está à disposição da comunidade regional para auxílio na diagnose de doenças de plantas.