Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Os três líderes do grupo, que comandavam esquema para recebimento indevido do auxílio-reclusão, receberam penas de mais de dez anos
A 5ª Vara Federal de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, condenou 21 pessoas que se uniram para fraudar o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social ) mediante a utilização de documentação falsa para obter benefícios de auxílio-reclusão indevidos.
Segundo o MPF (Ministério Público Federal), de 2010 até 2016, os denunciados associaram-se entre si, de forma permanente, ordenada e com divisão de tarefas, para a prática de fraudes contra a autarquia federal. A fim de evitar que os delitos fossem descobertas, o grupo agia em diferentes cidades, tendo atuado em pelo menos três Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Conforme o MPF, os fatos descritos decorreram da investigação denominada Operação Mongeral, da Polícia Federal. O “modus operandi” consistia em encaminhar pedidos de benefício de auxílio-reclusão junto a agências do INSS, os quais eram protocolados, na maior parte das vezes, por um dos integrantes da quadrilha.
Os requerimentos eram instruídos com diversos documentos falsos ou pertencentes a terceiros, cujos beneficiários seriam crianças com direito ao recebimento do benefício a partir da data da reclusão do segurado, gerando, assim, consideráveis parcelas retroativas.
As defesas alegaram preliminarmente a nulidade de provas e interceptações telefônicas. No mérito, sustentaram a inocência dos réus, negando a prática dos crimes imputados.
Ao analisar as provas, o juízo afirmou que a denúncia apontou a ocorrência de 61 eventos de estelionato, atribuindo aos líderes, organizadores e aliciadores também o crime de organização criminosa.
Ele pontuou que o modo de agir do grupo “exigia a falsificação de um ou mais documentos necessários para os requerimentos de auxílio-reclusão, especificamente o atestado de reclusão do segurado, a certidão de nascimento do dependente menor de idade e o documento de identidade do responsável legal pelo menor. Após a concessão do benefício, passava-se, então, à segunda etapa do crime, com o saque dos valores pagos pelo INSS”.
Segundo a sentença, publicada na última quinta-feira (20), “resta evidente, em primeiro lugar, a estrutura estável e ordenada de divisão de tarefas, na medida em que as atribuições de aliciamento dos requerentes, falsificação dos documentos e saques dos valores eram desempenhados por diversas pessoas.
Ainda que alguns dos envolvidos tivessem participação apenas eventual e isolada, com relação aos quais não haverá caracterização do crime em questão [organização criminosa], em diversos casos foi possível apontar a mesma pessoa como responsável por uma ou mais etapas do crime, demonstrando a habitualidade e estabilidade da organização”.
Para o juízo, restou comprovado que a liderança intelectual da organização competia a três réus que organizavam as etapas da empreitada criminosa, aliciando terceiros e obtendo os documentos falsificados, que depois seriam protocolados no INSS. Outros dois acusados tinham por função o aliciamento de terceiros que forneceriam seus documentos para o grupo, além de emprestar sua conta bancária para depósito dos valores sacados dos benefícios.
“As consequências dos crimes são graves, considerando o imenso prejuízo para o INSS decorrente da fraude perpetrada, estimado em mais de 2 milhões de reais”, ressaltou.
A denúncia foi julgada parcialmente procedente, condenando 21 pessoas, sendo que 18 pelo crime de estelionato e, destas, cinco também por organização criminosa. Dois réus foram condenados somente por organização criminosa e um por utilizar falsa identidade.
Os três líderes do grupo receberam penas de mais de dez anos de prisão. Os demais integrantes das quadrilha foram condenados a penas que variam de quatro a sete anos de reclusão, além de multa. Cabe recurso ao TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).