Principal risco de um ingrediente que tenha passado da validade é a proliferação de bactérias e uma eventual intoxicação alimentar
Um dos pontos que levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a suspender a fabricação, comercialização, distribuição e uso dos produtos da marca Fugini em estoque foi a identificação de matéria-prima vencida na produção da maionese.
Em comunicado, a Fugini admitiu o uso de corante que havia passado da data de validade nos produtos. “Por um erro operacional, esse lote foi fabricado com adição do ingrediente urucum (agente natural para dar cor ao produto) que representa 0,003% da formulação que estava fora da sua data de validade”, afirmou a empresa.
As unidades dos lotes afetados estão sendo recolhidas e não devem ser consumidas, segundo a autoridade sanitária. Tratam-se das maioneses com vencimento em janeiro, fevereiro ou março de 2024, ou lotes com vencimento até dezembro de 2023 cuja numeração seja iniciada por 354. A orientação é para que estabelecimentos, assim como pessoas que tiverem o produto em casa, entrem em contato com o SAC da empresa, pelo telefone 0800 702 4337, que fará o recolhimento.
Riscos
“Um dos principais riscos de usar ingrediente vencido é a proliferação de bactérias. E existem algumas que alteram a textura, o sabor e o aroma daquela substância. Mas existem algumas que não fazem mudanças sensoriais no alimento, então nós não percebemos ao se alimentar que está contaminada”, explica a nutricionista Deborah Lestingi, pós-graduada em Nutrição Esportiva pela Universidade de São Paulo (USP).
Isso porque os alimentos, a depender das suas formulações, são meios favoráveis para o crescimento de microrganismos, já que oferecem os nutrientes necessários para eles e, geralmente, encontram-se em temperatura ambiente, diz Deborah. No entanto, a ingestão de comidas contaminadas pode trazer riscos.
“É justamente a concentração bacteriana e das toxinas que elas liberam que é um grande risco porque, dependendo do quanto você consome, pode provocar uma intoxicação alimentar até grave. E se for alguém que já tenha um sistema imunológico enfraquecido, essas pessoas ficam muito mais vulneráveis por terem uma capacidade menor para combater uma infecção, e podem ser internadas ou até desenvolverem uma septicemia, espécie de infecção generalizada que pode ser letal”, complementa.
Porém, o nutricionista Thiago Monteiro, embora reconheça a importância da fiscalização da Anvisa e do cumprimento das legislações sanitárias, destaca que, pela substância que estava vencida no caso da maionese se tratar de um corante, dificilmente o consumo trará grandes riscos à saúde do indivíduo.
“Se tem ingrediente vencido tá errado. Mas existe algo chamado “shelf life” do prazo de validade que é mais uma questão de o tempo garantir todas as características do produto de quando ele saiu da fábrica, e não do risco de contaminação. Porque se perde características de aroma, sabor, textura ele já deve ser considerado vencido. Mas no caso da Fugini, que foi um corante, que não tem água, provavelmente não traria grandes riscos à saúde para o consumidor por não ter muito risco de proliferação biológica. Ele só provavelmente não daria o tom de cor prometido”, explica o especialista.
Além disso, outra preocupação que veio à tona nesta semana é com o consumo de outros alimentos da marca que estão nas casas ou nos mercados, uma vez que apenas aqueles em estoque foram suspensos. A Anvisa disse ao GLOBO que “caso o produto existente na residência seja qualquer outro produto da marca Fugini (além da maionese)”, “não há orientação de restringir o consumo”.
No entanto, de acordo com a resolução da agência, a suspensão também foi motivada por falhas encontradas na fábrica de Monte Alto, São Paulo, “relacionadas à higiene, controle de qualidade e segurança de matérias-primas e produto final, controle de pragas, rastreabilidade, entre outros”.
Embora a agência não tenha identificado problemas nos alimentos em si, indivíduos que consumiram os outros produtos, ou até mesmo a própria maionese, e estão mais receosos podem monitorar o surgimento de sintomas que indiquem alguma reação incomum, como diarreia, vômitos e náuseas – sintomas de uma intoxicação alimentar. Se for o caso de sintomas graves, ou persistentes, o ideal é que busquem atendimento médico.