Chilena teve que se submeter a uma mastectomia em decorrência do câncer de mama
EFE - 14.02.2023
Menina foi submetida a uma mastectomia para retirada do nódulo, mas família teme que a doença retorne
Uma menina chilena de sete anos passou recentemente por uma mastectomia após ser diagnosticada com câncer de mama, em um caso inédito no mundo que chamou a atenção da comunidade científica por sua raridade e levou a família a pedir ajuda para combater a doença.
A menina, natural de Quillota, cerca de 120 quilômetros da capital Santiago, recebeu seu diagnóstico em setembro, após uma passagem pelos serviços sanitários chilenos que começou quando sua mãe detectou um pequeno caroço em seu seio esquerdo.
"Um dia, em outubro de 2021, depois de dar banho nela, eu estava secando e quando apliquei o creme percebi que ela tinha um feijãozinho embaixo do mamilo; levei-a ao pronto-socorro e a encaminharam para o especialista, mas estava pendente um exame que demorou muito, quase cinco meses", explicou Patrícia Muñoz, mãe da menina.
Ao perceber a preocupação da médica com esses primeiros resultados, Patrícia transferiu o caso para o Hospital Viña del Mar, a cidade mais próxima e com mais serviços de saúde, mas entre exames e outras consultas com especialistas, o tumor aumentou.
"O mamilo cresceu muito, ficou roxo, parecia um ovo. Eles a operaram em agosto e quase dois meses depois me deram o resultado da biópsia, que inclusive revisaram em Santiago, e que dizia que a menina tinha câncer de mama", contou Muñoz.
Foi "devastador" para a família, disse a mãe. "Minha filha tirou tudo, inclusive um nódulo, e meu medo é que isso apareça na outra mama", acrescentou.
Um Caso inédito
Os pais da menina viveram um longo e solitário processo até chegar ao diagnóstico atual, que poucos médicos apontaram no início.
"Eles fizeram uma peregrinação muito longa e a princípio os médicos não acreditaram no que estavam vendo, então demorou muito para entregar o diagnóstico", disse Felipe Tagle, presidente da Associação Chilena de Pacientes com Câncer, que acompanha a família.
"Os casos de câncer de mama em menores de 14 anos são muito raros, quase inexistentes, são extremamente raros, estamos falando de 0,0001%, não temos histórico porque é um caso único no mundo", diz o mastologista do Hospital Clínico da Universidade do Chile, Mario Pardo.
A radiologista e especialista em câncer de mama do mesmo hospital, Patricia Arancibia, afirma que "há pouca literatura sobre o assunto e as publicações existentes correspondem a casos isolados."
A médica cita um estudo de J. Murphy, que em 2000, no Canadá, "relatou uma paciente de seis anos com câncer de mama e constatou que até então havia 38 casos publicados em menores de 19 anos, com idade média de 11 anos".
Segundo Tagle, o caso mais semelhante hoje em dia é o de uma menina de 10 anos nos Estados Unidos; no entanto, o tumor da filha de Patrícia é, também, triplo negativo, o que significa que não possui nenhum dos três receptores (progesterona, estrogênio e proteína HER2) nos quais esse câncer normalmente se encontra e que facilitam o tratamento e a evolução.
Meu maior medo é explicar o que aconteceu
À espera de mais resultados para decidir qual será o próximo passo, a mãe realiza pesquisa através da Internet, investiga e procura opções, mas todas as possibilidades que surgem "são ligadas aos adultos", lamenta.
"O câncer de mama é a primeira causa de morte por câncer em mulheres no Chile e no mundo; porém, é uma patologia da mulher adulta, principalmente após os 50 anos", aponta Arancibia.
Embora no Chile a mamografia anual seja recomendada a partir dos 40 anos, Tagle considera que casos como esse mostram que "a idade deve ser antecipada para 25 anos e, se houver histórico familiar, muito antes".
Desde que o caso veio a público, a família tem recebido ajuda do Ministério da Saúde chileno e não descarta buscar apoio e soluções internacionais.
Porém, seu grande desafio ainda está por vir: "Agora ela não entende o que está acontecendo com ela porque é uma menina e só fala que está faltando um peito quando se vê sem mamilo", diz Patrícia, "mas meu maior medo é não saber explicar o que aconteceu", admite.