Foto: Fecoagro / Divulagação
Presidente da Fecoagro diz que desenvolvimento das plantações é “muito ruim”
A estiagem no Estado já causa perdas para a soja em relação à estimativa inicial de produção da Emater-RS/Ascar, de 20,56 milhões de toneladas. Essa é a avaliação do presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro/RS), Paulo Pires. De acordo com ele, o Estado já está com quase 100% da área plantada para a soja, mas o andamento dessas lavouras preocupa. “O desenvolvimento da lavoura de soja é muito ruim, nós temos de novo uma área no Rio Grande do Sul muito manchada: em alguns lugares chove, em outros não”, descreve. “Na grande maioria do Rio Grande do Sul nós tivemos problemas seríssimos com o milho, na safra de verão, e agora estamos tendo com a soja”.
Mas Pires afirma que, pelo menos, as previsões para o clima daqui para frente não indicam uma situação como a da última safra. “A não ser que (a falta de água) seja muito severa, é muito difícil ser igual ao ano passado, porque no ano passado a situação foi arrasadora”, lembra. De acordo com ele, a região das Missões é a mais afetada, a exemplo dos municípios de São Borja, São Luiz Gonzaga e Bossoroca. “Aquela região ali é disparada a mais afetada no Rio Grande do Sul hoje”, descreve.
Um outro município afetado na região é Tupanciretã. Lá, o prejuízo estimado em dezembro para esta safra de soja era de R$ 26 milhões. “Hoje, um mês depois, se fala já em aproximadamente R$ 200 milhões de prejuízo”, afirma o prefeito do município, Gustavo Terra. Ele lembra que na safra 2021/2022 o prejuízo foi de R$ 1 bilhão. A área plantada prevista inicialmente para a soja em Tupanciretã era de 154 mil hectares, mas num segundo momento foi feita uma reavaliação que baixou a previsão para 149 mil hectares. “O que se sabe é que hoje nós temos entre 85% e 90% da área plantada”, afirma. Segundo ele, o município já tem uma área de replante de 30%.
Para conter efeitos da estiagem, Terra conta que no ano passado o governo do município de Tupanciretã construiu 480 açudes com recurso próprio e recebeu 12 do governo do Estado. E este ano já foram construídos 30 açudes no município. “Mas a demanda que temos pela frente é de mais de 100 (açudes), e eu temo que haja necessidade de nós fazermos centenas de açudes este ano ainda”, declara o presidente do Sindicato. Este ano, o município tem feito abastecimento de água potável para 30 famílias, além da construção de bebedouros e açudes em tempo integral. O governo também pretende solicitar ao governador que tome medidas mais efetivas para enfrentar a estiagem.
Outro município que já sofre com os efeitos da estiagem é Arroio Grande, na região Sul do Estado. De acordo com o presidente do Sindicato Rural do município, Marcelo Silveira, a perda é “enorme”. Minha família tem propriedade e eu, com meus 49 anos, não tinha visto uma estiagem tão grande. É extremamente preocupante, os reservatórios menores estão secos”, descreve. De acordo com ele, os 50 milímetros de chuva nos últimos 10 dias representaram um pequeno alívio para o município, pois ajudaram os produtores de soja “na época certa”, mas há agricultores que não conseguiram plantar e desistiram.
O decreto de emergência de Arroio Grande foi homologado pelo Estado em 4 de janeiro. Segundo Silveira, a prioridade do município no momento é distribuir água para consumo humano. “Para nós sem dúvida está pior que o ano passado, no ano passado não fomos tão castigados, se comparado com outros municípios da região Sul do Estado”, relata.
Pires considera que, para conter os efeitos da estiagem, além de ter um cuidado especial com o solo, com práticas como a cobertura com palhada, é preciso investir em irrigação e na reservação de água em Áreas de Preservação Permanente (APPs). “Isso é um desafio que a gente tem, de conseguir mostrar para as autoridades competentes que a reserva de água em APP ajuda, e muito, a preservar o meio ambiente, porque a gente tem o entendimento de que água é vida, que onde a água é armazenada a vida é abundante”, considera.